Juliana Romano, ex-editora de beleza da revista ‘Gloss’, conquistou seu espaço na rede falando sobre moda plus size, no blog ‘Entre Topetes e Vinis’. Hoje ela conversa com a ‘MyBasic’ e explica como alcançou sucesso ao trazer dicas e alto astral às gordinhas por aí.
MyBasic: De onde surgiu a ideia do blog?
Juliana Romano: Sempre fui uma aficionada por blogs. Tive um para cada fase da adolescência (o diário, o revoltado, o das baladas da faculdade). Quando fui “amadurecendo”, lia de tudo, coisas que me agradavam e coisas que eu poderia não ter lido, sabe? Aí criei o ‘Entre Topetes e Vinis’ para “jogar” lá tudo que me agradava. Comecei falando de música, de moda, de unhas… eram pensamentos soltos “entre topetes e vinis”, sempre com a pegada retrô que eu amo.
MB: Como foi a adaptação de um blog comum para um blog vinculado à ‘Gloss’?
JR: Foi meio acidental. Minha diretora queria um blog de transformação e convidou uma repórter – que estava acima do peso e em depressão, para escrever um diário de como ela estava “saindo do buraco”. Claro, ela estava super-relutante, porque não queria uma exposição tão grande em uma fase difícil de sua vida. Aí eu, estagiária, sugeri fazer o tal blog, com a condição de que ele não seria para baixo; eu faria um diário de roupas que eu uso mesmo estando fora dos padrões, para provar que o que a gente costumava falar na revista era acessível a todas. Não custava nada tentar. Importamos o conteúdo relevante do WordPress para o blog da redação da GLOSS com a mesma cara (retrô, com bolinhas e pin ups). A “sinceridade” foi mantida e funcionou com as leitoras. Afinal, em time que está ganhando não se mexe, né?!
MB: Como foi a aceitação das leitoras a um blog com um tema que não era muito abordado?
JR: Acho que foi justamente isso que deu força ao blog. Era uma época que plus size era uma palavra temida, ninguém falava sobre isso e, principalmente, o tema não aparecia na mídia com naturalidade. Aí chega uma gordinha simpática falando que “tudo bem você ser gorda” – embora as pessoas não te aceitem e queiram que você mude. Tive incontáveis críticas, porque foi difícil para algumas leitoras aceitarem que uma gorda estava lá, trabalhando na revista que elas liam. Também precisei aceitar que eu estava bem, que eu realmente gostava de estar “fora dos padrões”. Com o tempo, as leitoras foram se identificando e acabou não sendo só um blog para meninas plus size, mas um espaço para falar de aceitação.
MB: Quais são suas inspirações para os looks?
JR: Não tenho uma inspiração. Uso o que gosto para o dia a dia, não me prendo muito a modismos. É claro que tem muitas peças que seguem as tendências, porque é o que está na vitrine das lojas – e eu compro MUITA roupa – mas sempre tento dar algum serviço, seja uma loja barata ou um truque na hora de usar as peças e acessórios.
MB: Como você acha que influencia a vida de suas leitoras?
JR: Pelo feedback que recebo, a influência é sempre muito positiva. Não acho que elas comecem a se vestir bem por minha causa, prefiro acreditar que elas começam a se olhar no espelho de outra forma. Elas percebem que não precisam se encaixar nos padrões e que dá para ser feliz assim. Tento passar um pouco de positividade e otimismo para elas e isso facilita a aceitação e a elevação da autoestima.
MB: Por que escolheu falar sobre plus size?
JR: Sempre foi um tema muito recorrente na minha vida. Eu respiro isso, acordo todo dia e me vejo no espelho. Sei como é sofrido para as meninas (principalmente as que gostam de moda) lidar com a pressão para entrar nos “padrões”. Então, pensei que se eu conseguia driblar com bom humor, por que não compartilhar? Algumas dicas fazem toda a diferença não só na roupa que você veste, mas na forma como você encara a vida.
MB: Seu blog bateu recorde de acesso na Gloss durante vários meses, por que você acha que ele chama tanta atenção?
JR: Acho que é uma conjunção de fatores que levam o blog para cima: concorrência, identificação, carisma e visibilidade. 1) Concorrência – é muito difícil encontrar blogueiras empenhadas, que entendam o mínimo sobre moda e consigam levar isso para o universo plus – se vestindo e dando as caras. 2) Identificação – sou uma menina comum, que trabalha feito louca, não ganhei uma herança para gastar em Louboutins e nem acho isso necessidade primária – assim como 99% das meninas brasileiras. Eu me visto como dá e o resultado agrada as leitoras porque é possível dentro do universo delas. 3) Carisma – você pode ter um blog exatamente igual ao meu, ser bonita, se vestir de um jeito legal, dar dicas legais, mas acho que tem algo de diferente no meu texto. Justamente por eu não ter travas e escrever o que me vem à cabeça, do jeito que eu escreveria a uma amiga. 4) Visibilidade – a GLOSS me permitiu atingir o público que eu queria. Não acho que seja o fator principal de sucesso, mas com certeza ter uma revista feminina importante por trás dá certa credibilidade inicial, que seria muito difícil de conquistar sozinha.