George R. R. Martin (ele mesmo, criador da série A Song of Ice and Fire, base para Game of Thrones, da HBO), ao ser perguntado como consegue escrever papéis para mulheres de forma tão “diferente”, respondeu laconicamente:
“Sabe, eu sempre considerei que as mulheres eram pessoas.”
Que existe uma certa barreira para protagonistas do sexo feminino em Hollywood não é novidade. Na maioria dos filmes icônicos, as mulheres acabam confortavelmente alocadas em segundo plano – tanto em relação ao leading man quanto aos próprios estereótipos a elas impressos. Além disso, a sede de Hollywood por novas e belas atrizes relega muitas vezes profissionais infinitamente superiores a papéis de menor expressão.
Mas algo está acontecendo na indústria americana. Não se sabe de onde parte, mas a mudança é endêmica. Papéis mais bem escritos, atrizes competentes e o gosto do público são alguns dos sintomas de um cinema muito mais amadurecido em relação às suas estrelas.
Um bom exemplo é A Hora Mais Escura (Zero Dark Thirty, 2012) que não só deu a Jessica Chastain uma indicação ao Oscar como estreou em primeiro lugar no box office americano. Críticas a parte, podemos lembrar que na obra, Chastain interpreta Maya, uma agente do FBI que é – de fato – a personagem central do filme. Ela não é esposa, namorada ou mãe de ninguém e muito menos aparece nua.
Nesta mesma linha, em 2013, uma grande conhecida do público agracia as telonas dessa mesma forma. Sandra Bullock estrela o já aclamado Gravidade (Gravity, 2013), de Alfonso Cuarón. No longa, considerado um dos mais realistas dramas espaciais, Bullock é Ryan Stone, uma mulher que precisa a todo custo se salvar de uma morte impensável. Nem por isso, ela se apropria de características masculinas para essa missão. Ela ainda se emociona. E o público junto, já que o filme está no topo das bilheterias por onde estreia.
Veja o trailer:
Junte a isso o fato de Bullock ter quase 50 anos de idade e uma longa carreira no cinema. É importante pensar que muitas jovens atrizes são competentes no que fazem mas, a cada aniversário, fica maior a dificuldade em encontrar bons papéis.
Com o sucesso estrondoso de crítica e público de Gravidade (que estreou no Brasil na última sexta-feira), podemos esperar que a inteligência dos roteiros e filmes estrelados por mulheres aumente ainda mais. Jovens indefesas em meio a robôs gigantes podem ser ótimas fontes de renda fácil, mas, ao passo que o público conhece ousadas produções lideradas por grandes atrizes, vai ficar mais difícil para os estúdios ignorar um fator primordial para a arte: a qualidade.
Gravidade (2012) estreou no Brasil no último dia 11, em IMAX e 3D.